Quando o tratamento se torna uma dor de cabeça

A cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH, do inglês medication overuse headache) é um subconjunto da enxaqueca crônica, que resulta do uso excessivo regular de medicamentos para cefaleia. É um problema comum e global, com prevalência de 1-2%,1 acometendo até 70% das pessoas com enxaqueca crônica.2 O Dr. Giorgio Lambru (Reino Unido) discutiu no EAN2021 as últimas descobertas sobre a fisiopatologia desta importante condição e apresentou uma estratégia de manejo eficaz, incluindo educação, retirada de medicamentos e tratamento preventivo.

Definição e impacto da cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH)

Os critérios atuais da ICHD-3 definem a MOH como:1

  • Cefaleia que ocorre em 15 dias/mês em um paciente com um transtorno de cefaleia primária pré-existente
  • Uso excessivo de forma regular por >3 meses de ≥1 medicamento(s) que podem ser tomados para tratamento agudo e/ou sintomático da cefaleia 
  • Não ser melhor descrito por outro diagnóstico do ICHD-3

A enxaqueca é o principal transtorno de cefaleia em até 80% dos casos.3 Os pacientes usam medicamentos em excesso na tentativa de aliviar os sintomas de sua cefaleia primária, e que resulta num ciclo infeliz em que o tratamento se torna a causa das cefaleias.

A MOH tem um impacto maior nos pacientes e na sociedade do que a enxaqueca sozinha

A MOH é uma grande e crescente preocupação de saúde pública2, com maior impacto nos pacientes e na sociedade do que a enxaqueca isolada. Acomete mais comumente mulheres na faixa etária dos 40 anos2, e a prevalência diminui com a idade2. Outros fatores associados incluem obesidade, sedentarismo e tabagismo4.

 

Qual é a causa da MOH?​​​​​​​

Há alterações funcionais e estruturais no sistema nervoso central

A fisiopatologia da MOH é complexa e apenas parcialmente compreendida. Estudos têm demonstrado alterações funcionais e estruturais no sistema nervoso central5. Variantes de genes polimórficos candidatos estão sendo exploradas, e os mecanismos propostos incluem alteração do metabolismo dos neurotransmissores e regulação positiva de mediadores vasoativos e pró-inflamatórios (por exemplo, peptídeo relacionado ao gene da calcitonina [CGRP])5.

 

Prevenção através da educação

A MOH é evitável e requer maior conscientização da população em geral e de todos os profissionais de saúde que lidam com pacientes com cefaleia. Apenas 8% dos pacientes sabem que o uso excessivo de todos os tipos de medicamentos para cefaleia pode levar ao desenvolvimento de MOH6.

A MOH é evitável e requer maior conscientização

A educação e o aconselhamento, para limitar o uso futuro de medicamentos para tratamento agudo, podem ser eficazes em pacientes com MOH simples, mas geralmente não são suficientes naqueles pacientes com MOH mais complexa4. Isso inclui o uso excessivo de opioides/tranquilizantes/barbitúricos e aqueles com condições psiquiátricas comportamentais e comorbidades.

 

Manejando a retirada de medicamentos de uso excessivo

Se a educação não for eficaz, o passo seguinte é a retirada dos medicamentos em excesso4, para restaurar um padrão episódico de cefaleia. Há um debate considerável sobre o modo de retirada e o uso de tratamentos ponte4. Geralmente, a ingestão de medicamentos pode ser interrompida abruptamente em pacientes que fazem uso excessivo de analgésicos simples/ergotaminas/triptanos, mas pode ser necessária uma redução lenta naqueles que usam opioides/barbitúricos/tranquilizantes4. Os pacientes devem ser avisados de que podem apresentar piora do quadro antes de apresentarem melhora.

A taxa de sucesso para retirada é de 50 a 70%

A retirada pode ser realizada em ambiente ambulatorial ou hospitalar, dependendo de cada caso4. Aqueles com MOH mais complexa podem precisar de uma equipe multidisciplinar, incluindo neurologista/especialista em dor e psicólogo comportamental. As taxas de sucesso são de 50 a 70%4, com maiores taxas de recaída naqueles com uso excessivo de opioides. Planos robustos de acompanhamento de médio a longo prazo são importantes.

 

Medicamentos preventivos pode ser altamente eficazes

O tratamento preventivo mais a retirada é mais eficaz do que qualquer um deles isolado

O tratamento preventivo deve ser oferecido juntamente com a retirada, pois é mais eficaz do que qualquer uma das abordagens isoladamente. Carlsen et al7 demonstraram que a cura da MOH foi aumentada em 30% (risco relativo 1,3; 1,1; 1,6) com retirada mais tratamento preventivo em comparação com o tratamento preventivo isoladamente (p=0,03), embora todas as três estratégias tenham sido eficazes, com redução dos dias de cefaleia/mês em 12,3 no grupo combinado, 9,9 no grupo de tratamento preventivo e 8,5 no grupo de retirada.

 

O apoio financeiro educacional para este simpósio por satélite foi fornecido pela Lundbeck.

 

 

Quer receber as novidades da Progress in Mind Brazil no seu celular?

Participe do nosso canal no Telegram clicando aqui e receba os novos conteúdos assim que forem publicados

 

Our correspondent’s highlights from the symposium are meant as a fair representation of the scientific content presented. The views and opinions expressed on this page do not necessarily reflect those of Lundbeck.

Cloned Date
2022/03/28 06:03:44
Clone source Id
11646
Clone source uuid
561f2c6b-b1f5-4089-9932-7bee27abd199

Referências

  1. Ailani J. Medication-Overuse Headache. Pract Neurol 2020 May;67-71.
  2. Kristoffersen ES, Lundqvist C. Medication-overuse headache: epidemiology, diagnosis and treatment. Ther Adv Drug Saf 2014;5(2):87-99.
  3. Find NL, et al. Medication overuse headache in Europe and Latin America: general demographic and clinical characteristics, referral pathways and national distribution of painkillers in a descriptive, multinational, multicenter study. J Headache Pain 2015;17:20.
  4. Diener HC, et al. European Academy of Neurology guideline on the management of medication-overuse headache. Eur J Neurol 2020;27(7):1102-16.
  5. Meng ID, et al. Pathophysiology of medication overuse headache: insights and hypotheses from preclinical studies. Cephalalgia 2011;31(7):851-60.
  6. Fischer MA, Jan A. Medication-overuse headache. StatPearls [Internet] 2020. Available at: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538150/.
  7. Carlsen LN et al. Comparison of 3 Treatment Strategies for Medication Overuse Headache: A Randomized Clinical Trial. JAMA Neurol 2020;77:1069-78.